segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Os dentes e “as bocas” de Jesualdo


A época futebolística ainda está no começo – a Liga só arranca no próximo fim-de-semana – mas Jesualdo Ferreira, com a já célebre conversa das três lavagens de dentes diárias, fez questão de, bem cedo, candidatar-se a uma das intervenções menos conseguidas da temporada. Acontece. Foi um momento infeliz de alguém que, independentemente da competência enquanto treinador, não tem a arte necessária para fazer piadas ou, noutro registo, tentar pressionar os adversários com diálogos laterais. Nem todos podem ser como José Mourinho...

Campeão nacional em título, o técnico sentiu-se com peito para protagonizar uma intervenção repleta de confiança, o que é louvável, mas também algo arrogante. Deu-se mal. Ganhar pode, como defende, ser um hábito, mas não é, em alta competição, tão simples quanto escovar os dentes. E isso, aliás, nem ficou provado com o triunfo do Sporting na Supertaça, pois os leões são do “mesmo campeonato” que os dragões e até tinham vencido o último duelo entre ambos. O afastamento azul e branco da Taça de Portugal, na época passada, em casa, diante do modesto Atlético, talvez sirva para ilustrar melhor essa diferença entre um simples gesto de higiene, que todos aprendemos enquanto criança, e o desejo de vencer um jogo, um troféu. São coisas distintas. Percebo o paralelismo que Jesualdo quis fazer, mas não saiu bem. Em caso de vitória em Leiria, nem se teria notado, mas assim deu muitas nas vistas. É tirada para ficar na história.

É verdade que, nos últimos anos, ganhar passou a ser algo normal no FC Porto. O que não significa, claro está, que ganhe sempre. Perder com o Sporting (ou com o Benfica) jamais poderá ser encarado com surpresa, embora as estatísticas recentes confirmem que os nortenhos têm tido mais motivos para sorrir que os rivais da capital. Mas, para Jesualdo, treinador com uma longa carreira, isto de ganhar provas importantes ainda é novidade. Aos 61 anos, apenas conta com o título nacional da época passada. Fez um trabalho excelente em Braga, mas de resto, no que diz respeito a desempenhos na divisão maior, não tem muito para apresentar. Pode argumentar-se que Académica, E. Amadora e Alverca não lhe permitiam grandes feitos (o que é verdade), mas na Luz, também andou aos soluços, saindo sem glória depois do Benfica ser afastado da Taça de Portugal, após um desaire caseiro com o Gondomar.

Tendo em conta que nunca foi um técnico consensual entre os adeptos portistas – sendo assumido benfiquista o contrário é que causaria surpresa... -, Jesualdo não pode dar-se ao luxo de falar “de barriga cheia” sem apresentar resultados. A derrota na Supertaça pode ter sido um mero acidente de percurso, até porque três bolas nos ferros e uma grande penalidade ignorada podiam ter ditado um desfecho diferente, mas o técnico convém ter presente que a estreia na Liga é em Braga, local de onde o dragão saiu chamuscado a época passada, e que logo a seguir surge a recepção ao Sporting, embate que também não correu nada bem ao FC Porto há uns meses.

Mais do que tentar ter piada ou especializar-se em “mind games”, o técnico do FC Porto precisa é de guiar a sua equipa a um bom arranque na Liga. Tem armas para o fazer sem sobressaltos, mas de certeza que não será com a escova de dentes...

PS – Filipe Soares Franco gostou da vitória da sua equipa. É normal. E não falou da arbitragem. Também é normal... quando se ganha!

In "Jornal Record"
Segunda-feira, 13 Agosto de 2007 - 11:40

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